segunda-feira, 30 de maio de 2011

Prehistoric Times

MUSEU DE PALEONTOLOGIA DE MARÍLIA É DESTAQUE EM REVISTA NORTE-AMERICANA
A revista especializada norte-americana “Prehistoric Times” publicou em sua última edição, matéria assinada pelo Paleontólogo argentino Agustin Martinelli sobre o Museu de Paleontologia de Marília, inaugurado pela Secretaria Municipal da Cultura e Turismo em 2004, e o trabalho de seu idealizador, o pesquisador e coordenador William Nava. Na matéria, a revista destaca suas últimas descobertas de Nava e os principais achados em Marília e região.
Leia abaixo a matéria na íntegra:



PREHISTORIC TIMES

 Fósseis do Cretáceo no Museu de Paleontologia de Marília, SP, Sul do Brasil
Por Agustín G. Martinelli
Agustín_martinelli@yahoo.com.ar
http://sites.google.com/site/martinelliagustin/

         Como eu já havia escrito anteriormente no número 84 da Prehistoric Times, a natureza selvagem do meio ambiente do Brasil faz deste país único para os naturalistas. Em muitos aspectos o Brasil ainda é uma terra inexplorada e com respeito á Paleontologia do Mesozóico ainda há muitas descobertas a serem feitas. Paleontologistas ativos, estudantes, técnicos e curiosos, amantes de ossos e fósseis por todo o Brasil têm feito muitas descobertas de animais pré-históricos neste país nos últimos anos. Até o início dos anos 90, o Brasil teve apenas uma espécie de dinossauro do Triássico: o Staurikossauros pricei (Colbert 1970) e um do Cretáceo: Antarctosaurus brasilienses (Arid & Vizzoto 1971), o último considerado atualmente como inválido. Durante os anos 90, cinco novas espécies de dinossauros foram descobertas, e nos anos seguintes (2000-2009) ao menos 10 outras espécies, aumentando consideravelmente o número de dinossauros no país. Juntamente com o aumento dos dinossauros descobertos, também houve a descoberta de várias novas espécies de outros grupos como anuros, tartarugas, squamatas, crocodilomorfos e pterossauros.
         Historicamente museus de grandes cidades como Rio de janeiro, São Paulo e Porto Alegre, eram os principais repositórios de fósseis e nessas instituições equipes empenhadas cuidavam da preservação e estudo dos novos materiais para a Ciência. Nas últimas décadas, o desenvolvimento de universidades e a criação de pequenos museus em cidades no interior do Brasil mudaram este panorama. Os novos museus abriram suas portas em cidades pequenas a fim de exibir os fabulosos fósseis descobertos nas áreas próximas, usualmente pelos habitantes das cidades. Desse modo, o objetivo desta matéria é apresentar um pequeno museu, mas com uma coleção muito rica de vertebrados do Mesozóico na cidade de Marília, Estado de São Paulo, sudeste do Brasil.
         O Museu foi inaugurado no dia 25 de Novembro de 2004 com o nome: “Museu de Paleontologia de Marília”. Foi fundado pela Secretaria Municipal da Cultura e Turismo, Prefeitura de Marília (Governo de Marília), devido ao forte incentivo do professor de história William Roberto Nava, o principal descobridor de fósseis da região. Aos 55 anos de idade, William Nava coletou uma grande quantidade de fósseis da região de Marília, o qual não apenas permitiu a fundação do Museu local, mas também trouxe diversas e bizarras novas espécies à luz. Ele também é o coordenador e curador do Museu.
         Como uma pessoa prática e inteligente, William trabalhou em parceria com paleontologistas de outras instituições como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), o Museu Nacional do Rio de Janeiro, a Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Rio Claro, o Museu de História Natural de Taubaté entre outros, os quais ajudaram na pesquisa e no desenvolvimento do museu. Talvez sem esses relacionamentos inter-institucionais o trabalho de William nunca tivesse tanta ressonância na sociedade Brasileira.
         Os fósseis coletados por William vieram de diversos sítios, descobertos por ele, localizados nas vizinhanças da cidade de Marília ou mesmo dentro da própria cidade. As formações Adamantina e Marília são as principais unidades desta região que pertencem ao grupo Bauru. Elas apresentam sedimentos fluviais, eólicas e lacustres da última era do Cretáceo. Diferente de outras regiões, como o Deserto de Gobi na Ásia, o Grand Canyon nos Estados Unidos, ou a Patagônia na Argentina, vegetação prolífica cobre a maior porção das rochas do último período Cretáceo no Brasil, produzindo não mais que afloramentos isolados para a procura por fósseis, consistindo principalmente de pedreiras abandonadas ou cortes de estradas.
         Os fósseis coletados e expostos no Museu de Paleontologia de Marília incluem peixes, anuros, squamatas, mesoeucrocodilos, dinossauros e aves, alguns deles ainda em estudo. A atividade de William é constante e a cada ano novos espécimes são conhecidos.
         Os restos fósseis do Cretáceo descobertos mais freqüentemente na região de Marília pertencem aos mesoeucrocodilos. Os achados incluem vários esqueletos articulados com crânios de ao menos duas espécies diferentes. Um desses o Mariliasuchus amarali, denominado por I.S. Carvalho & R. J. Bertini em 1999, é um dos mais conhecidos notosúquios do Brasil. A forma do crânio do Mariliasuchus tem um aspecto de mamífero e tem uma dentição particular com Incisivos procumbentes diferenciados, caninos e postcanines. Indivíduos de idades diferentes foram encontrados, jovens e adultos, e também ovos associados, cascas de ovos, e coprólitos. Vários tópicos foram estudados em publicações recorrentes que trouxeram informações relevantes para esta paleobiologia, paleoecologia, e relações filogenéticas.
         Outro notosúquio descoberto na região é o Adamantinasuchus navae, denominado por P. E. Nobre & I.S. Carvalho em 2006. Esta espécie tem uma dentição bizarra com os dentes carregando fileiras pontiagudas posicionadas no lado interno. Ambas as espécies são partes de um grupo terrestre de mesoeucrocodilos que são distribuídos principalmente nas localidades de Gondwana com suas altas diversidades durante o Cretáceo na América do Sul. Eles são animais de pequeno a médio porte e desenvolveram uma ampla variedade de dentição, como a presente na Notosuchus terrestris, Sphagesaurus huenei, Simosuchus clarki, e malawisuchus mwakasyungutiensis, entre outros, diferentemente da dentição típica crocodiliana.
         Desenterrando restos de crocodilomorfos, William observou um pequeno pedaço de rocha com pequenos ossos. Após preparação, o bloco contendo 10 vértebras articuladas e costelas de não mais de 14 milímetros de comprimento em toda a seqüência. Infelizmente, esses restos não tinham o crânio ou os membros mas o achado foi de grande importância, representando um Squamata não-serpente (Um animal parecido com um lagarto), os quais são SCARE nos registros fósseis da América do Sul. Além disso, na escavação do Mariliasuchus, ele descobriu restos esqueléticos bem preservados de anuros com crânio, os quais estão sob estudo atualmente.
         Restos de aves enantiornithes foram descobertos por William na Formação Adamantina. O material inclui dezenas de ossos de aves, preservados o suficiente para identificar ao menos três indivíduos enantiornithes. Esse material foi brevemente descrito em um encontro de paleontologia em 2005 no Brasil e está atualmente sob estudo. Esses restos são no momento os achados de aves do Mesozóico mais importantes do Brasil.
         O primeiro resto ósseo achado na área de Marília foi um osso pélvico de titanossauro saurípede em 1993; subseqüentemente, novas descobertas de dinossauros foram feitas. Eles incluem principalmente ossos isolados de titanossauro saurípede e abelissauro terópode. Recentemente, William encontrou um esqueleto parcialmente articulado de titanossauro na Formação Marília. No presente este material está sendo preparado e estudado, e possivelmente constitui uma nova espécie. Enquanto escavava o dinossauro, um táxon de dinossauro desconhecido foi também encontrado.
         Eu conheci William em 2007 e fiquei surpreso com a quantidade e qualidade de restos fósseis que apenas uma pessoa havia coletado. Felizmente, o museu que ele erigiu resgata os maravilhosos fósseis que viveram em Marília e nas áreas adjacentes durante a Era dos Dinossauros. Também, o Museu [e um centro educacional e turístico que deu um brilho adicional à cidade de Marília, no sudeste do estado de São Paulo.
         William me disse: “Eu adoro paleontologia porque nos traz de um passado distante evidências de outras criaturas que existiram antes de nós. Eu tenho o privilégio de viver em uma região onde há uma grande quantidade de restos fósseis e com as descobertas nós podemos mostrar às pessoas que a vida na Terra é dinâmica e espetacular. O estabelecimento do Museu de Paleontologia foi de grande importância para a cidade de Marília e para a Ciência como um todo. O Museu se torna a casa para os fósseis desenterrados na região. Eles são exibidos permanentemente e estão também disponíveis para pesquisa científica. Para mim, o Museu é um complemento para o reconhecimento de um campo de trabalho que eu tenho feito na região por mais de 17 anos.”
         Eu certamente espero que as descobertas de William nessa região continue!

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