quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Mariliense Luciana Crepaldi é selecionada e expõe em 15º Festival Internacional Paraty em Foco



A artista mariliense Luciana Crepaldi foi selecionada para expor seus trabalhos no 15º Paraty em Foco, importante festival internacional que aconteceu no mês de setembro e contou com fotógrafos de todo Brasil e também do exterior. 

Luciana levou quatro trabalhos, sendo um selecionado e outros três pré-selecionados. O vencedor é um autorretrato intitulado “Reflexo Duplo”, feito na lente de uma câmera Yashica de 1930. A obra está exposta na Casa de Cultura de Paraty. 

As demais obras pré-selecionadas são dois ensaios (“Desnatureza”, com seis fotos, e “Escaneandome”, contendo 10 obras) e uma foto única “Retrato de Família”. Os trabalhos podem ser apreciados no Site Paraty em Foco (www.paratyemfoco.com.br). 

A artista foge da banalidade e mergulha no universo artístico da fotografia. Seus trabalhos são intensos e com temáticas fortes. 

Adquiriu grande conhecimento em Barcelona, onde viveu por muitos anos, fazendo cursos e workshops, trabalhando e expondo. Toda a bagagem adquirida resultou em seu trabalho como arte educadora através de workshops realizados pela Poiesis e Governo do Estado de São Paulo. 

Neste ano já foram realizadas 22 oficinas em todo Estado, sendo quatro em Marília com apoio da Secretaria da Cultura, e as próximas acontecerão na cidade de Lavínia neste final de semana e, no próximo mês, em Álvaro de Carvalho, sempre trabalhando o conceito de autoralidade. 



Luciana Crepaldi 



Graduada em arquitetura na PUC de Campinas, Luciana optou por orientar sua energia e suas ideias no mundo da arte. Em uma tarde tranquila, num gesto inocente e despretensioso, inicia sua primeira experiência artística com um scanner de mesa recém comprado. 

O que parecia ser uma brincadeira curiosa, se transforma em uma inusitada ferramenta capaz de brotar um trabalho imagético, intuitivo, íntimo, intenso, intitulado: “Escaneandome”. Composto por uma série de imagens, algumas delas, unidas formando uma obra, foi exposto pela primeira vez em 1999 no projeto “Rumos Visuais” do Itaú Cultural de São Paulo, Belo Horizonte e Campinas. 

Este mesmo ano, Luciana se muda para Barcelona onde trabalha como fotógrafa e designer para: Galeria H2O, Editora “La liebre de marzo” e para o Jornal da companhia Ibéria. 

Expõe seu trabalho autoral nos centros de fotografia: Can Basté, Can Felipa e Pati Llimona; nas galerias: Metropolitana, 12 Gats e Visiones; no Museu Mercado das Flores; na Academia de Buenas Letras; no Museu de Arte Contemporânea de Barcelona; nas Universidades de Alicante, de Cadiz e de Huelva; na Feira de Arte Contemporânea ARCO em Madrid; na “Palma Photo" em Mallorca; no “Salon du Montrouge” em Paris; no “The New Contemporary Fair” em Nova York ; na Galeria Internacional em Baltimore; no ”Art in Love” na Alemanha e na Casa Cor 2017 em São Paulo. 

Premiada na VI Bienal Internacional de Fotografia “FOTONOVIEMBRE 2001” em Santa Cruz de Tenerife, na Bienal de Valls em Tarragona; nos Concursos de Fotografia “Festa da Mercê” 2006, 2008 em Barcelona; no concurso “Caminhos de Ferro” 22ª de Madri. Recentemente recebeu o 1º Prêmio na categoria fotografia, do 30º Salão de Artes de Marília 2019. Suas obras fazem parte das Coleções: “Arte y Naturaleza” de Madri; “Olor Visual” de Ernesto Ventos; Camilla Hann, da Alemanha e da Galeria Bourbon Lally, do Canadá. Atualmente segue com seus projetos autorais e trabalha como fotógrafa e arte educadora, administrando cursos, workshops e oficinas através das Oficinas Culturais Poiesis e Governo do Estado de São Paulo. 



A Artista explica um pouco sobre os trabalhos pré-selecionados, que possuem interessantes histórias e significados envolvidos: 




Desnatureza: “vivemos uma realidade fabricada pelo sistema onde indivíduos são massas de manobra: vide sua foto com a cabeça de uma mulher embalada num saco plástico com código de barra. Por diversas vezes utilizada como isca de consumo pela publicidade para vender algo, ao longo da história, a mulher sempre foi objeto de consumo em um mundo de ditadura estética e ideal de beleza. 
As imposições sociais próprias de cada região geográfica, geram uma diversidade de estragos tanto físicos como psicológicos, muitas vezes cruéis, começadas na infância e gerando marcas impossíveis de reverter. Aparentemente inofensivos, os elegantes e idolatrados sapatos de saltos altos, hoje já se sabe o quanto é capaz de prejudicar as articulações e gerar dores constantes nos tornozelos, joelhos, quadris e até mesmo o pescoço. Posição incômoda que coloca a mulher mais propensa a adquirir problemas posturais sérios como uma lordose lombar e a cifose cervical ou até mesmo, o encurtamento do “Tendão de Aquiles”.
 Já a inocente e pré-estabelecida; depilação, como a solução para uma pele sem pelos, suave e perfeita, contudo pode ocasionar o surgimento de pelos encravados, alergias, ardências, entre outros males. Logo a mais desejada e cultuada e por muitas vezes, a mais desapontadora e ilusória: cirurgia plástica. Até abordar costumes mais extremistas como o uso absurdo dos colares que estendem o pescoço das míticas mulheres girafas do norte da Tailândia, onde as meninas aos cinco anos de idade já começam a colocar as primeiras argolas no pescoço. 
A inclusão das argolas é no ritmo do crescimento e um colar nas mulheres adultas pode possuir até 37 argolas, as quais pode chegar a pesar até 10 quilos, o que afeta todo seu físico, comprimindo a clavícula para baixo, afundando a caixa torácica, gerando diversos problemas de saúde e vindo o falecimento antecipado. Vistas como algo exótico e curioso para os turistas, caso decidam tirar as argolas, param de receber ajuda de custo do governo. Porém a maior aberração e mais dolorosa de todas, foi uma pratica ilegal que teve origem na china em meados do Século X, durante a Dinastia Song (que durou de 960 a 1279 d.C). 
Chamados de Pés de Lótus, a tradição chinesa causou deformidade em muitas mulheres ao longo da história, até a abolição em 1949. A simbologia que os Pés de Lótus possuíam era enorme. As moças cujos pés calçavam os pequenos sapatos que atingiam máximo de 10 cm, eram altamente erotizadas, era um fetiche na época, sinal de status e desejo e aspiravam a promessa de um bom casamento e um futuro promissor. Para que alcançassem o formato ideal dos Pés de Lótus, que se encaixassem nos sapatos de lótus, era necessário realizar um procedimento longo e doloroso de amarração dos pés que se iniciava aos 3 anos de idade, utilizando de bandagens para amarrar os pés muito apertados, de forma a quebrar o arco do pé e os ossos dos dedos, isto pois a amarração impedia o desenvolvimento normal dos pés, e obrigava que o pé crescesse deformado, com os dedos para dentro, em direção ao calcanhar. Em alguns casos, a constrição do pé tornou tão grave que partes da pele, dedos e outras partes do pé simplesmente apodreciam. As moças com os Pés de Lótus não eram capazes de realizar nenhum trabalho pela dificuldade até mesmo em andar, resultado dos pés deformados e doloridos. Também por este motivo, os Pés de Lotus deram aos homens um controle sobre elas, que já não podiam ir muito longe, destinadas a uma vida de servidão e sofrimento. Hoje as mulheres idosas que possuem Pés de Lótus, são propensas a problemas nos quadris, coluna, além do risco de queda. 
O que era símbolo de beleza e erotismo tornou-se uma deformidade para muitos repulsiva, marcando o que tirava a capacidade feminina de andar, dançar, realizar tarefas simples, para poder satisfazer os desejos masculinos. O ensaio; ‘Desnatureza’, convida ao público a refletir sobre todas estas questões de estética, culturais de beleza e a recorrente e desumana banalização da imagem da mulher, a análise de um indivíduo a nível de objeto, sem considerar seu emocional ou psicológico, em um mundo onde a aparência importa mais do que todos os outros aspectos que as definem enquanto indivíduos. Finaliza o ensaio com o código de barras na cabeça, evidenciando o argumento de ser um produto a venda”, explica a artista. 


Escaneandome – “Tudo começou em uma tarde tranquila de uma quarta-feira, 25 de novembro de 1998. Este dia comprei um scanner de mesa formato A4 e por curiosidade escaneei a minha mão. Surpreendida com o resultado, coloquei a outra, meus pés, os membros, todo meu corpo. Desnuda, encarei de frente aquele espelho que me espionava e em menos de duas horas, já havia nascido o que logo se transformaria em uma série de autorretratos onde corpo e sentimentos foram literalmente escaneados pela máquina. Foi no vidro frio do scanner onde meu corpo quente se lança a um intenso processo de experimentação combinando partes, criando estruturas, registrando ações, observando minha estrutura corpórea e emocional. Com ele, me encontrei retratando o desamor, os desejos caducados, a solidão; digitalizando e imortalizando a cada instante, os gestos de uma realidade íntima, criativa, conflituosa, sonhadora. Encontrei no scanner um modo muito particular de exteriorizar minhas emoções, o sentimento de ”incompletude” que nos estão natural. Um estranho laboratório portátil, onde pude capturar imagens fragmentadas de una suposta realidade, muitas vezes real, outras, inventada. Logo, como um “puzzle” tento remendar-me fazendo uma colagem digital, juntando as partes em um programa de computador, monologando com o “espelho interativo”, tentando buscar no seu confuso inconsciente, respostas para a compreensão de sua própria existência.” 

“A obra ‘As três graças’ faz parte deste projeto e é uma releitura de uma obra muito recorrente na pintura da antiguidade. Desde os pintores clássicos como Rubens, Boticelli, Rafael, até os mais contemporâneos, como Botero, criaram versões bem diferentes das três graças. Na Mitologia Grega, elas são conhecidas como as “Deusas da Felicidade”. Elas são representadas por três mulheres: Aglaia/Abigail, Euphrosyna e Thalia. Cada uma delas personifica, respectivamente, o esplendor, a alegria, o desabrochar”, diz Luciana. 





Retrato de Família: “ Em meus passeios pelas pequenas cidades do estado de São Paulo, costumo conversar e retratar a sociedade local, os traços típicos, a personalidade das pessoas que nunca tiveram a possibilidade de possuir uma imagem que as colocasse em um registro digno de memória. Esta fotografia realizada no município de Herculândia, representa um “Retrato de família” de uma boa parte da população simples do interior do Brasil. Junto a seus filhos, uns ainda com suas chupetas na boca, Gercino Ferreira Neto de 41 anos, é um pai trabalhador, faz coleta de reciclagem, honesto com seus princípios, nos presenteia com um olhar sincero e singelo de satisfação, que me faz imortalizar e acreditar que a fotografia seja capaz de dar a conhecer esta realidade, onde a aura de cada indivíduo, seja o de maior valor, a mais sublime de todas as energias”, finaliza Luciana Crepaldi. 





3 comentários:

  1. Sensacional. Gratidão a tds envolvidos!!! Bjos

    ResponderExcluir
  2. Lu,
    Quanto mais conheço o seu trabalho, mais me apaixono!
    Seu olhar é diferente e intenso. Sua arte é bela e esbanja criatividade.
    E você sempre tão autentica, livre e cheia de vida!
    Admiro tudo, vc e sua arte!
    Parabéns por suas conquistas e originalidade!
    Bj

    ResponderExcluir